Joe Biden vem da classe trabalhadora, filho mais velho de quatro irmãos. A família mudou-se da Pensilvânia para Wilmington, Delaware, quando ele tinha dez anos, depois que seu pai conseguiu um emprego como vendedor de carros.
Foi justamente em Delaware que se tornou senador, aos 29 anos. A partir de então, viajava todos os dias de trem para Washington, D.C., por mais de três décadas.

Essa origem e estilo de vida mais humildes fazem com que o candidato consiga se conectar com uma ampla base eleitoral. E é justamente isso que pode lhe render votos entre aqueles que apoiaram Trump em 2016 e agora estão decepcionados.
“Ele é o tio Joe. Ele é visto como um cara legal. Um cara que não vai mudar muito as coisas, mas que as tornará muito melhores do que Trump”, argumenta David Brady, professor de ciência política da Universidade de Stanford e pesquisador sênior do centro de análise da Hoover Institution.
Sua imagem de “cidadão comum” contrasta claramente com o perfil de um presidente milionário que transita confortavelmente nos círculos de Wall Street e também com Hillary Clinton, a candidata democrata nas eleições de 2016.

Biden, ao contrário, desenvolveu mais conexões andando pelos corredores do Congresso do que fazendo negócios com os gestores de grandes fundos mútuos e a elite empresarial.
Empatia e experiência política
Durante sua vida, ele enfrentou duras tragédias familiares, como a morte de sua primeira esposa e de sua filha de 13 meses em um acidente de carro e, décadas depois, a morte de seu filho Beau, aos 45 anos, de câncer no cérebro.
Isso o tornou, aos olhos de alguns eleitores, um ser humano que sabe como é passar por momentos difíceis, superá-los e compreender a dor dos outros.
“Ele tem a capacidade de mostrar empatia e compreensão por aqueles que enfrentam adversidades”, disse Anthony Zurcher, jornalista da BBC especializado em cobertura política dos Estados Unidos.

O contato direto com pessoas comuns tem sido uma característica que marcou sua carreira política. Soma-se a essa conexão empática uma experiência política que inclui mais de quatro décadas em cargos públicos.
“A principal vantagem de Biden é que ele é uma figura pública estabelecida”, explica Barry Burden.
E já que esta eleição parece mais um referendo sobre o governo Trump do que uma eleição tradicional, muitos americanos não querem surpresas ou apostas arriscadas. Nesse sentido, existe um setor que privilegia quem representa estabilidade e experiência.
Centro moderado
Biden representa uma postura moderada, o que lhe permite atrair eleitores mais próximos de posições mais centristas tanto do Partido Democrata quanto do Partido Republicano, além de independentes.
Com a premissa de “continuidade e mudança”, Biden é visto como uma pessoa mais pragmática do que ideológica e com experiência na criação de coalizões.

“Uma das maiores vantagens para Biden é sua atitude focada em permanecer calmo e no controle”, diz John Hudak, pesquisador sênior e vice-diretor do Centro de Gestão Pública Efetiva do Departamento de Estudos de Governança da Brookings Institution.
“Quando há crise, os americanos procuram um administrador estável e capaz”, explica ele em conversa com a BBC Mundo.
Por isso, seu tom conciliador e sua mensagem de unificação do país têm ressonância com parte dos eleitores que estão cansados da estratégia de enfrentamento do presidente.
Mas também é uma faca de dois gumes, já que o setor mais esquerdista de seu partido — que se tornou uma força crescente entre a geração mais jovem — não está interessado no centrismo e prefere representantes muito mais liberais como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez.
Habilmente, Biden incluiu entre suas propostas ideias do setor que apoiou Bernie Sanders (que se declara socialista) e Elizabeth Warren nas primárias.

“Biden tem forte apoio de seu partido”, disse Julian Zelizer, professor de História e Relações Públicas da Universidade de Princeton, à BBC Mundo.
E a forte rejeição a Trump entre os democratas acabou cimentando ainda mais esse apoio.
E com esse perfil, Biden derrotou o atual Presidente Trump nas eleições e será o 46º Presidente dos Estados Unidos